terça-feira, 24 de janeiro de 2012

A Guerra civil entre Liberais e Absolutistas - Um pouco de História Local

Como viveu o concelho de Milfontes o período da guerra entre liberais e absolutistas? Será que os habitantes deste cantinho no litoral alentejano viveram este período da História num ambiente de calma e tranquilidade, indiferentes à guerra que assolava todas as regiões do reino?
Atendamos ao que no diz o historiador António Martins Quaresma:

"Expulsos os franceses, a guerra civil entre absolutistas e liberais trouxe poucos anos depois ao país e à região um período de graves perturbações sociais.
Em 1833, há notícias de que os absolutistas perseguem e prendem os liberais. No ano seguinte, porém, com a derrota de D. Miguel, o liberalismo instala-se; no concelho de Milfontes, são instaurados 45 processos movidos por liberais perseguidos e presos, com vista à indemnização de danos materiais e morais causados pelos miguelistas, em conformidade com o decreto de 31 de janeiro de 1833."
       in, António Martins Quaresma, Apontamento histórico sobre Vila Nova de Milfontes

                                              Guerra civil entre liberais e absolutistas

A verdade é que toda esta região do litoral alentejano, incluindo sa serras do Cercal, de São Luís e mais longe de Monchique e Caldeirão constituíam um importante refúgio para os bandos de guerrilheiros absolutistas e partidários de D. Miguel que espalhavam o terror e o medo pelas populações.  O mais famoso bando de guerrilheiros que se escondeu por estes lugares foi o bando do Remexido, um famoso miguelista perseguido pelos liberais, que mesmo depois da derrota miguelista não se quis render.
Foi capturado em 1838 na serra algarvia e condenado à morte. 
                                                              A detenção do "Remexido"

Para ficares a conhecer um pouco melhor a faceta desta figura histórica da História Local lê o excerto da obra "Um trono para dois irmãos" da coleção "Viagens no Tempo" de Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada:

"(...) Outro perigo espreitava, porém, nos esconderijos da serra. — Temos que ter cuidado — advertiram os capitães. — Anda por aí um bando perigosíssimo que ataca pela calada da noite. Fazem verdadeiras razias e depois desaparecem sem deixar rasto. O chefe é um tal Remexido. Nas aldeias basta ouvirem-lhe o nome para se irem fechar em casa a tremer de medo. — Sabe o que me contaram do Remexido, capitão? Dizem que pode estar três dias e três noites sem comida de gente. Não perde a força porque mastiga umas certas raízes que só ele conhece. — Isso fazia-nos jeito para rações de combate — brincou o capitão. — Se o encontrarmos havemos de o convencer a revelar o segredo. — Nem a tiro. O Remexido é fanático por D. Miguel. Até lhe digo mais. Se por azar o tipo anda aí à espreita e vê as nossas fitas azuis e brancas, estamos fritos. — Tens medo? — Falei só para a gente se precaver. Não tenho medo nenhum. O movimento da cabeça e os olhares furtivos na direção das moitas mais cerradas indicavam que mentia, o que neste caso só lhe ficava bem. Um soldado não pode dar parte de fraco, senão perde a coragem e desanima os companheiros. Não era no entanto de espantar que ele e os outros percorressem os caminhos íngremes da serra algarvia com receio de serem surpreendidos pelo bando do Remexido. Havia quem dissesse que eram só vinte ou trinta, mas também havia quem garantisse que eram mais de mil. E contava-se que faziam verdadeiras loucuras! Cada restolhada punha-os em sobressalto, o mínimo ruído parecia-lhes suspeito.(...)»

(in Um Trono para Dois Irmãos, pp. 117-118)


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